O repente
Era janeiro do ano passado e eu descia a Serra Gaúcha pela primeira vez. Passei longe do frio que todo ano leva dezenas de milhares a fazerem o caminho contrário. Mas foi descendo a serra rumo a São Leopoldo que notei a primeira coisa sobre a cultura daqui que realmente me interessou.
Era uma rima esquisita, improvisada. Completava um dedilhar cigano de violão. As frases descreviam a vida nos pampas, com poesia. Vez ou outra abusava do humor, dos trocadilhos, dos eufemismos. No arremate subia o dedilhar das cordas. Era repente de gaúcho. Um negócio chamado 'payada'.
Sem trocadilhos, se James Brown é o rei do soul, Jayme Braun é o rei da 'payada'. O texto inaugural desse blog é dele. Trata-se de uma mescla de trechos de duas 'payadas' do finado Braun. Como ele, existem inúmeros outros 'payadores' que recitaram e recitam a vida estancieira.
Mas uma coisa me intrigou. Nunca nenhuma das pessoas com quem comentei sobre isso sabia quem era Jayme Caetano Braun ou o que era a tal 'payada'. Senti vergonha de achar que todo gaúcho fosse um filhote tradicionalista.
Em tempo: a imagem que estampa o cabeçalho do site é uma montagem de uma gravura do grafiteiro britânico Banksy com uma foto editada do Laçador, cartão-postal de Porto Alegre.
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