A capital da bola
A quarta-feira tinha algo de diferente no ar. A começar pela temperatura. O dia rompeu uma semana de frio e repentinamente os termômetros da cidade marcavam 30ºC. Seria esse o perfume da esperança? Não. Era mais que isso. Quase uma certeza de que o Grêmio faria quatro gols e ficaria com o título da Libertadores.
Porto Alegre fervilhava. Mais que a Av. Paulista que eu vi minutos antes do Brasil bater a Alemanha e se sagrar pentacampeão. E não era esperança que movia os tricolores gaúchos. Era certeza da virada. E por que duvidar? Não era impossível ganhar o título da Série B no pertinente Estádio dos Aflitos? Não era impossível bater o Caxias e garantir vaga na final do Gaúchão 2007?
Mais que qualquer outra torcida que eu já vi, o Grêmio contagiou Porto Alegre de uma tal forma que até os agouros colorados eram tímidos. Nem seus principais rivais conseguiam se apoiar de forma convincente nos 3 a 0 que o Boca Juniors garantira uma semana antes em Buenos Aires.
Um milhão de camisas do imortal cobriram os peitos dos gremistas. No fim da tarde, vi uma fila se formar na catraca. Não a do Olímpico, mas a dos prédios de escritórios. Dezenas olhavam impacientemente para o relógio do marcador de ponto, esperando os intermináveis segundos que não permitiam a chegada das 18h. Chegou! Saíram dali e foram. Para o estádio, para os bares, suas casas.
Durante o jogo, silêncio mortal. Caminhando por diversos bares vi centenas de gremista vidrados na TV, um ou outro comentário e a narração uníssona de várias televisões promovendo surround exclusivo. Numa praça, um grupo puxou a fiação do poste de luz e ligou um pequeno televisor 14 polegadas.
O fim se aproxima. E um tal certo Juan Romám bateu o prego no caixão. Não deu. Mas era o Boca, dá pra entender. Os gritos que se seguiram eram colorados. Nada de escândalo. Alguns poucos fogos e mais silêncio, que logo virou mudez da madrugada. Tinha tudo pra ser lindo, mas não foi.
No dia seguinte, a torcida que foi elogiada - invejada até - por todos, errou. Guardou suas camisas, e a quinta-feira amanheceu novamente fria e mais vermelha que azul, preta e branca. Era hora de sangrar junto com o Grêmio.
Na quinta, eles estavam a pé, mas sem o escudo e as cores que juraram seguir sempre, onde quer que estivessem.
Um comentário:
Caro Nelson Rodrigues, Boca es Boca. Nada más!
Postar um comentário